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Linho

Material

Nome comum da planta

Linho, linho-galego, linho-mourisco, linho-riga-nacional

Nome científico da planta

Linacae - Linum usitatissimum L.; Linum bienne Mill.

Distribuição no território nacional

Existe um pouco por todo o território, considerando a diversidade de espécies. Os linhos de uso têxtil (mais fibrosos) preferem climas húmidos e frescos, enquanto os linhos oleaginosos (para produção de óleo de linhaça) ocorrem em climas mais temperados e quentes (D’Ambrosio et al., 2018). Encontra-se em prados vivazes ou anuais, clareiras de matos, bermas de caminhos. Em locais frescos e em solos com alguma humidade e, geralmente, profundos. A sua floração acontece de fevereiro a junho (Flora-On).

© gbif.org/ Nuno Filipe Bastos

O Linho é uma fibra vegetal proveniente de plantas da família das Linaceae, do tipo herbáceo. O caule contém fibras muito resistentes (cujo comprimento atinge até 90 cm, apresentando diâmetros entre 12 e 16 mícrons), que após muitos tormentos se transforma no fio utilizado na produção de tecidos. 

Os designados tormentos referem o conjunto de etapas que compõem o longo processo de transformação das fibras vegetais nos fios para tecer e bordar.

Apesar de estar presente de forma espontânea em grande parte do território nacional, a planta do linho foi cultivada com maior incidência no norte e centro do país, onde o clima, mais húmido e fresco, é mais adequado. As espécies mais comuns para o cultivo são o linho-comum (Linum usitatissimum L.) e o chamado linho-galego (Linum bienne L.) que tem outras designações regionais como linho-silvestre, linho-da-terra, linho-de-inverno e linho-mourisco.

A origem da utilização das fibras do linho na produção de tecidos é incerta. A referência mais antiga é atribuída ao Egipto, onde o linho foi amplamente cultivado e utilizado. Vestígios arqueológicos datados da era pré-dinástica (5000 a.C) demonstraram, pela qualidade dos tecidos, um conhecimento profundo das técnicas. 

O vestígio mais remoto da sua cultura e utilização em Portugal é da Idade do Bronze (2000 a.C), na Serra de Monchique. A história do linho está bem documentada, o que revela a sua importância, sobretudo a partir da idade média. O linho, em molhos de fibras ou já em tecido, servia como moeda de pagamento. No entanto, a falta de investimento no desenvolvimento desta cultura de forma sistemática, resultou num decréscimo desta importância, a partir do séc. XV. O bragal, designação atribuída ao pano de linho nacional, era de natureza grosseira. Os panos de linho fino eram de importação e tinham a designação de lenço. A industrialização da produção têxtil nacional, incrementada pelas políticas pombalinas a partir do séc.XVIII, não abrangeram o linho, que manteve características de produção doméstica e de pequena escala. Apenas em meados do séc. 19 surge uma unidade fabril dedicada aos tecidos de linho, em Torres Novas. Entre os anos 40 e 80 do séc. XX a cultura do linho foi desenvolvida para fins industriais, com sementes importadas, mais produtivas do que as locais. 

As variedades de linhos nacionais mais cultivadas são o linho-galego, o linho-mourisco e o linho-riga-nacional. Existem outras designações regionais, mas que se referem a um destes três.

“O linho galego é o mais vulgarizado e predomina nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Vila Real e Guarda. Convêm-lhe terras frescas e clima húmido (...). É uma variedade da Primavera que se semeia em Abril ou início de Maio, e se colhe em Junho. O linho mourisco predomina nos distritos a Sul do Tejo, e ainda nos de Bragança, Santarém e Castelo Branco. A fibra é mais comprida que a do galego, mas mais escura e grosseira. Possui a capacidade de se adaptar a terrenos argilosos ou mesmo muito pobres. É uma variedade de Inverno, que se semeia após as primeiras chuvas, nos meses de Outubro e Dezembro, e se colhe em Maio. O riga nacional é pouco cultivado, aparecendo apenas nos distritos da Guarda e outras partes do Minho. A fibra deste linho é mais comprida e menos fina que a do galego e mais curta e fina que a do mourisco. É também uma variedade da primavera.” (PEREIRA, 1985: 6).

A época da sementeira tem algumas variações regionais, entre março e abril. A germinação acontece em cerca de 4 dias. O tempo de crescimento e maturação da planta é de cerca de 2 meses. É necessário conhecer o ponto certo de maturação para realizar a apanha, que é realizada à mão, arrancando a planta pela raiz, normalmente entre maio e junho, escolhendo o tempo seco. A flor deverá ter fenecido dando lugar a cápsulas fechadas que contêm as sementes e os caules adquirem uma coloração amarela. O linho é estendido ao sol por um 1 ou 2 dias para secar, antes de ser ripado, utilizando um ripador ou ripo, uma peça de madeira com dentes, por onde se fazem passar as hastes, para separar a semente (linhaça).  

Segue-se a curtimenta ou alagamento, durante o qual se mergulham os molhos de hastes em água, em ribeiras ou tanques, os aguadeiros do linho, de modo a macerar e dissolver a matéria exterior que envolve as fibras, permitindo a sua separação. A etapa demora entre 7 e 12 dias em função da temperatura da água. No final é lavado para separar as fibras de todas as impurezas. A secagem dura entre 8 e 15 dias, em que o linho se estende aberto ao sol. 

A etapa seguinte, denominada fabricação, inclui diversas fases: A escolha das hastes, com seleção das mais longas e inteiras, em que a separação das fibras é feita num pente de dentes grossos verticais, mantendo-se na mão as que são boas; a maçagem (masgado) que separa as cascas das fibras, batendo os molhos de linho com um maço de madeira ou uma pedra de superfície uniforme, ao longo de todo o comprimento das fibras. Este processo também podia ser feito através de engenho de tração animal ou hidráulica. Cada molho é torcido e amassado (moído) para completar a remoção dos vestígios dos tascos; a espadelagem completa o processo de limpeza das fibras do linho, batendo em feixes, com uma espadela de madeira com um lado afiado, sobre um cutelo de madeira, libertando-as dos últimos resíduos de casca e outras impurezas. Neste processo separam-se também os tascos, fibras mais grossas e quebradas, que são fiadas e utilizadas para a execução de tecidos grosseiros como a serapilheira ou estopa; depois do linho espadelado é passado pelo sedeiro, uma etapa designada por assedagem, em que os feixes de fibras são passados por um pente com dentes de ferro ou cobre, polidos e afiados, presos num cepo de madeira. A disposição destes dentes, mais ou menos apertada, varia em função da finura pretendida para o linho, passando-se por vários sedeiros até atingir o fio mais fino. As fibras que vão sendo retiradas em cada sedeiro são aproveitadas para fazer os tecidos de grossuras intermédias, conhecidos por estopa e por estopinha. No final, o linho é acondicionado em feixes torcidos sobre si mesmos, conhecidos por estrigas, ficando pronto para passar para a fase da fiação. 

A fiação é o processo de fazer o fio ou linha a partir da fibra. Na produção artesanal são utilizados uma roca e um fuso ou uma roda de fiar. A roca pode ser de madeira ou cana, composta por um cabo com uma torre em forma cónica, onde se prende a estriga ou manelo  - linho a fiar. O cabo da roca é preso na cinta do avental. As rocas e os fusos são feitos por carpinteiros. Também podiam ser feitos pelos homens da casa ou pelos namorados que os ofereciam às namoradas. Após a fiação o fio é meado (acondicionado em meadas), utilizando um sarilho ou zangarilho.

As meadas de linho passam depois por um processo de branqueamento que conhece diferentes procedimentos conforme a prática local. Estes podem consistir na sua cozedura num forno de lume brando ou em água a ferver, depois das meadas serem empapadas em cinza ou excrementos de animais. Depois de lavado na barrela e arrefecido, as meadas de linho são deixadas a secar e a corar ao sol. Depois de seco, o linho é convertido em novelos com o auxílio de uma dobadoura, ficando o fio pronto para a urdidura do tear (EPFBM/CEEV, 1983).

Os utensílios relacionados com o processo do linho e com os seus tormentos revestem-se de um carácter simbólico e em muitos casos têm uma dimensão estética que varia de região para região. Isso é visível na decoração de espadelas, espadeladouros, rocas e fusos. Também a terminologia relacionada com as diferentes etapas e as formas privilegiadas de alguns desses utensílios têm variantes próprias de cada lugar.

Os tecidos de linho, primordiais durante séculos para o vestuário e para a vida doméstica, apresentam diferentes qualidades em função do fio com que são feitos, e podem ser considerados de duas categorias fundamentais: tecidos de linhos e tecidos de estopa. Estas duas categorias incluem espécies diversas que vão desde as cambraias muito finas até aos panos grosseiros de tormentos. 

Com a introdução do fio de algodão na indústria e na manufatura têxtil, passaram a ser frequentes os tecidos mistos, de linho e algodão, e de linho e .

  

Bibliografia

  • ESCOLA PREPARATÓRIA DE FREI BARTOLOMEU DOS MARTIRES/CENTRO DE ESTÁGIO DE EDUCAÇÃO VISUAIS (1983). Artes e tradições de Viana do Castelo. Coleção Arte e Artistas, n.º4. Lisboa: Terra Livre/DGD.
  • ESCOLA PREPARATÓRIA DE BRAGANÇA/ CENTRO DE ESTÁGIO DE EDUCAÇÃO VISUAL (1984). Artes e Tradições de Bragança. Coleção Arte e Artistas, n.º7. Lisboa: Terra Livre/DGD.
  • OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim (1978). O Linho: Tecnologia Tradicional Português. Lisboa: Centro de Estudos de Etnologia. 
  • PERDIGÃO, Teresa; CALVET, Nuno (2002). Tesouros do Artesanato Português, Vol.II: Têxteis. Lisboa: Verbo
  • PEREIRA, Benjamim (1985). Têxteis: Tecnologia e Simbolismo. Lisboa: IICT/ Museu de Etnologia.
  • D’AMBROSIO, Ugo et al. (2018). «Linum usitatissimum L.» In: TARDIO, Javier et al. (editores). Inventario Español de los Conocimientos Tradicionales relativos a la Biodiversidad Agrícola. Vol 1. Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación, p. 170-180.

  

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