As artes
tradicionais têm percorrido um longo caminho ao longo dos tempos, tendo sido
validadas por diferentes gerações e atualizadas várias vezes. No entanto, as
suas técnicas e artefactos, profundamente enraizados nos costumes diários e no
ambiente doméstico, têm vindo a desaparecer do nosso dia-a-dia. Há, contudo, novos entendimentos do mundo em que vivemos e do impacto da ação humana, que
reivindicam o caráter autêntico e holístico destes utensílios, o que
desencadeia uma recuperação das suas técnicas de produção, que voltam a ser
procuradas, adaptadas ou aprimoradas.
As artes e ofícios enfrentam os mesmos desafios que a indústria de massa e o
consumidor comum — a digitalização, a inteligência artificial, a crise
climática e a economia global. No entanto, a produção artesanal tradicional tem
a vantagem de oferecer respostas mais sábias e válidas aos problemas mais
urgentes do nosso tempo, graças à sua relação equilibrada com o meio ambiente,
à escala humana da sua produção e ao respeito pela cultura. Para compreendermos
essa resposta, é importante não ficarmos presos ao ritmo acelerado da inovação
artificial das megatendências globais e aprendermos a valorizar o tempo, a
beleza natural dos materiais e a eficácia dos processos ancestrais.
A produção artesanal tradicional não é uma relíquia do passado, mas sim uma
parte vital do presente e do futuro. Os produtos e serviços oferecidos por
artesãs, artesãos e pequenas manufaturas são uma resposta culta e sustentável
aos principais desafios da nossa época. O seu trabalho é executado com técnicas
e tecnologias antigas e fazendo um uso consciente dos recursos disponíveis,
pelo que resulta em importantes lições para a contemporaneidade, principalmente
na forma como apresentam soluções inteligentes e eficazes para o quotidiano.
Preservar matérias-primas e práticas vernaculares e nutrir o fascínio por criar
com as próprias mãos, são passos importantes para alcançar algo novo, ao mesmo
tempo preservando e melhorando o existente.
A participação
oficial portuguesa na Bienal De Mains de
Maîtres teve como fio condutor a missão que preside ao Programa Nacional
Saber Fazer Portugal, colocando em evidência os principais princípios que o
norteiam, nomeadamente, o reconhecimento da atualidade e relevância para a
sociedade contemporânea da produção artesanal apoiada em conhecimentos
ancestrais. Esta relevância pode ser percebida em quatro eixos: o do Sentido
quotidiano das suas produções, o do Respeito pela paisagem, o do Valor
patrimonial e o da Resiliência económica.