Nascido provavelmente no século XVII, só no final do século XIX e transição para o XX, passou a ser designado como Bordado de Castelo Branco, por ter sido aqui que a produção se manteve e adquiriu aspetos muito próprios. Resultado de um longo caminho evolutivo, quer temporal, quer geográfico, o Bordado de Castelo Branco é identificável pela temática decorativa, pela técnica utilizada, pelas matérias-primas e pela paleta cromática das cores. Caracterizado pela utilização do ponto a frouxo, o Bordado de Castelo Branco reúne influências da produção têxtil chinesa e indiana, aliadas à tradição das artes decorativas europeia e portuguesa.
A designação “Bordado de Castelo Branco” foi utilizado pela primeira vez, sob a forma escrita, em 1891, num artigo do Jornal Correio da Beira, ficando este tipo de bordado associado, desde essa altura, à cidade de Castelo Branco, e às colchas, cuja produção e comercialização a partir desta região são assumidas como sendo uma atividade próspera já no século XVII.
Eram na sua origem e até meados do século XIX trabalhos produzidos em contexto oficinal com recurso a desenhadores (debuxadores) profissionais o que indicia a existência de um vasto mercado para esta produção.
Na segunda metade do século XIX e no século XX há uma generalização da produção com características não oficinais, se bem que não exista comprovação de uma criação exclusivamente doméstica. Em simultâneo, dá-se início no século XX ao fabrico empresarial conciliando a produção manufactureira com a mecanizada. Até à década de 1920, o bordado aparecia disperso e raramente relacionado com a cidade de Castelo Branco. A vinda deste tipo específico de trabalho para Castelo Branco, deve-se a Piedade Mendes, natural da freguesia do Estreito, concelho de Oleiros, que durante as suas vindas à cidade reunia com um grupo de senhoras locais, a quem ensinava. Nas décadas de 1940 e 1950, a atividade doméstica de bordar a Castelo Branco, tomaria uma nova dimensão, passando do pequeno ciclo doméstico para unidades oficinais, sendo de referir a Oficina da Mocidade Portuguesa Feminina e a Casa Mãe de Elísio José de Sousa. Enquanto Elísio José de Sousa criou uma “fábrica oficina” que reunia a tecnologia moderna com o bordado dito tradicional, a Mocidade Portuguesa Feminina deu continuidade à ideia de bordado tradicional produzido de forma artesanal, num contexto feminino.
Durante o regime do Estado Novo, num contexto de afirmação do regionalismo beirão, tenta-se a recuperação da produção de Bordado de Castelo Branco, processo liderado por Sales Viana, Luís Chaves e Pe. Ribeiro Cardoso que construíram o discurso oficial de enquadramento e explicação do Bordado de Castelo Branco, que se tem vindo a repetir até hoje e influenciaram as grandes alterações que o Bordado sofreu neste século ao nível da composição, da técnica, das matérias-primas e da cor.
Em 1976, com a extinção da Mocidade Portuguesa Feminina, era constituída no Museu Francisco Tavares Proença Júnior a Oficina-Escola de Bordados Regionais, uma unidade de produção e de investigação dedicada ao Bordado de Castelo Branco. Esta Oficina-Escola foi responsável pelo trabalho de levantamento de todos os pontos usados no Bordado de Castelo Branco, a partir das colchas da coleção do Museu e dos trabalhos produzidos para venda. Os pontos inventariados são os que se utilizam hoje nos trabalhos executados pelas bordadoras, num total de 48 pontos.
Apesar da combinação de uma grande diversidade de pontos que podem também ser observados noutras tipologias de bordado existentes no país, uma das marcas distintivas do Bordado de Castelo Branco é a utilização preferencial e predominante do ponto frouxo, também chamado de Ponto de Castelo Branco. O seu nome advém do uso de fio de seda com pouca torsão e cuja principal característica é o preenchimento de grandes superfícies de tecido com uma técnica que economiza fio.
Os desenhos bordados têm uma simbologia própria sugerindo uma gramática visual de influência oriental, como por exemplo, a Árvore da Vida, os pássaros, os cravos, as rosas, os lírios, as romãs ou os corações.
Os materiais utilizados na execução do Bordado de Castelo Branco são o linho e a seda natural, de um modo geral o linho usado na elaboração do suporte e a seda, em fio, para bordar.
Fazem parte do processo de execução do Bordado a utilização de um bastidor horizontal, uma estrutura simples composta por ripas perfuradas encaixadas entre si, apoiadas em dois pés, e que permite o tensionamento do linho a bordar, proporcionando uma área de trabalho confortável à bordadora. Para a execução manual das franjas que são aplicadas em alguns trabalhos, a bordadora utiliza um tear de franjas, utensílio de estrutura simples de madeira.
Para além das colchas, consideradas o produto mais emblemático e valioso do Bordado de Castelo Branco, atualmente são também produzidos artigos como painéis, almofadas, napperons e vestuário.
O Bordado de Castelo Branco é hoje uma das produções nacionais tradicionais inscritas no Registo Nacional de Produções Artesanais Tradicionais Certificadas e uma parte importante da identidade cultural da região, sendo visível a utilização de alguns dos seus motivos na área pública da cidade de Castelo Branco, como calçadas, jardins e rotundas; e na decoração de objetos de uso festivo e simbólico, como vestidos de noiva e de batizado.
Texto cedido pela Câmara Municipal de Castelo Branco.
Bibliografia
Câmara Municipal de Castelo Branco, coord. (2015). Bordado de Castelo Branco. Castelo Branco: Câmara Municipal de Castelo Branco
PIRES, Ana; RAMOS, Graça, coord. (2022). Caderno de especificações para a certificação do bordado de Castelo Branco. Castelo Branco : Câmara Municipal de Castelo Branco, 3.ª edição