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A seda é uma fibra que resulta de um filamento proteico expelido pelas glândulas sericígenas das lagartas do bicho-da-seda e constituiu uma das matérias-primas têxteis mais caras. A descoberta da sua produção tem cerca de 5000 anos e teve a sua origem na China. A sericicultura compreende a cultura da amoreira, a criação do bicho-da-seda e a produção dos fios de seda para a indústria têxtil.
Os quatro maiores produtores mundiais de seda são a China, o Japão, o Brasil e a Índia. Cerca de 95% da seda produzida no mundo provém da lagarta da espécie Bombyx mori, designada por bicho-da-seda.
Durante séculos os chineses protegeram com graves sanções o segredo da produção de seda. No entanto, tal não impediu que mais tarde, esta viesse a tornar-se um dos bens preciosos mais transacionados entre o Oriente e o Ocidente, ao longo das diversas vias que vieram a constituir a Rota da Seda, meio de comunicação de extrema importância não apenas para as trocas comerciais, mas também para o fluxo de conhecimento científico, inovação tecnológica, práticas culturais e artísticas.
Ainda que faltem documentos que atestem as datas exatas acerca da introdução da indústria da seda em Portugal, alguns autores referem que já no reinado de D. Afonso Henriques, Lisboa era reconhecida como um importante centro de produção de seda. Na região de Trás-os-Montes, durante o reinado de D. Sancho II, existem registos históricos relativos a um impulso na plantação de amoreiras e criação dos bichos-da-seda (AZEVEDO et. al: 166).
Com altos e baixos ao longo de vários séculos, terá sido por ação das medidas protecionistas de Marquês de Pombal que a indústria da produção de seda conhece um período de franco desenvolvimento, com a criação da Real Fábrica das Sedas em Lisboa, instalada no bairro das Águas Livres, cuja edificação foi acompanhada da construção do Jardim das Amoreiras, com a arborização de 331 amoreiras, junto à Fábrica de Tecidos de Seda (atuais instalações do Museu da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva).
Deste plano de incremento da produção de seda fez parte o incentivo ao plantio de amoreiras e de bichos-da-seda em todo o reino, a fim de garantir mercado para a seda produzida (AZEVEDO et. al: 170). No século XVIII, Trás-os-Montes mantém-se como a região do País com grande atividade neste setor, registando-se em Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta a plantação e distribuição de milhares de amoreiras para a criação de bichos-da-seda. Em 1788 são criadas escolas de produção e fiação de seda em Bragança, a primeira em Chacim, na qual se instala um Filatório.
Não obstante todas as tentativas de modernização da indústria da seda em Portugal, a partir do século XIX, foram vários os fatores que contribuíram para o seu quase total abandono, entre eles, um frágil tecido empresarial, o desinvestimento financeiro, a carência de operários especializados, a incapacidade competitiva perante a produção estrangeira a custos mais baixos, o aumento da procura de outros tecidos mais práticos e baratos como o algodão e a ausência de procura para tecidos de luxo, num país pequeno, com uma população empobrecida, habituada ao burel e aos tecidos de linho de produção doméstica (SOUSA, 2006 b).
A produção de seda em Portugal, sobreviveu como uma prática residual e artesanal, maioritariamente doméstica, muito circunscrita a algumas regiões do país. Atualmente, os poucos locais de produção de seda no país são Freixo de Espada à Cinta e Castelo Branco. Apesar de constituírem dois exemplos muito distintos, quer nos métodos de produção e transformação, quer nos seus antecedentes históricos, têm em comum aliarem a produção à componente museológica através do Museu da Seda e do Território, no primeiro caso; e do Museu da Seda da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM), no segundo. Através da ação do Município de Freixo de Espada à Cinta, mantém-se em Trás-os-Montes a produção de seda e a sua tecelagem de modo totalmente artesanal e em moldes ancestrais. A APPACDM de Castelo Branco adotou esta atividade como um modelo de terapia ocupacional para os seus utentes, produzindo anualmente cerca de 15 quilogramas de seda de qualidade extra e 15 quilogramas de seda selvagem, com recurso a processos já mecanizados. Esta seda satisfaz apenas parcialmente a necessidade local de matéria-prima, naquela que é uma das artes mais ligadas à identidade cultural desta região, o Bordado de Castelo Branco.
A criação do bicho-da-seda a uma escala doméstica é um processo que implica um acompanhamento e atenção constantes. Após o ato reprodutivo das borboletas, cada fêmea produz cerca de 300 ovos. Estes começam por ser dispostos em caixas de papelão, forradas de papel branco, na divisão da casa mais quente. A partir de meados de março acontece a eclosão das larvas que são colocadas em tabuleiros, juntamente com folhas de amoreira muito tenras, para seu alimento. Era comum o uso dos tabuleiros de madeira de tender o pão, com o fundo forrado de jornais. A quantidade e abundância de alimento determina a velocidade a que as larvas amadurecem, demorando cerca de 25 dias. Atingida a idade adulta, as larvas vão começar a envolver-se na produção dos casulos. Ramos de pinheiro ou de arçã são colocados junto aos tabuleiros, atraindo as larvas que aí começam a fazer os seus casulos durante cerca de três dias. Os casulos são retirados dos ramos, antes de se dar a sua eclosão. Esta romperia o casulo e, por conseguinte, o fio de seda. Selecionam-se alguns casulos de machos e de fêmeas para reprodução posterior, enquanto os restantes são expostos ao sol, para matar as borboletas ainda no seu interior.
Os casulos são limpos à mão e colocados em água a ferver para dissolver a goma que os envolve. O caldeirão é retirado do lume e a partir daqui decorre a operação de extração dos fios, com a ajuda de um ramo de carqueija e um argadilho, no qual se vão enrolar os fios. Segue-se a sua fiação, uma vez que o fio final resulta da torção e estiramento de vários fios juntos. Com o sarilho formam-se as meadas. Depois de um processo cuidado de lavagem, branqueamento e secagem, as meadas são transferidas para novelos, com o uso de uma dobadoura. Para a tecelagem, o fio utilizado é mais grosso, para o bordado o fio é mais fino e será ainda submetido a um processo de tingimento.
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