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Tecelagem de Almalaguês

Práticas
©DGARTES/Pepe Brix/2025

Com possíveis raízes no século XI, a Tecelagem de Almalaguês tornou-se um pilar da identidade local desta freguesia do concelho de Coimbra, a que deve o nome. 

Nos teares manuais, muitas mulheres da região dão continuidade a este ofício, uma herança que é expressão do engenho artesanal, com uma relevância que transcende o âmbito local, marcando também o panorama regional e nacional, com um valor económico e histórico inegável.

  

Os materiais utilizados incluem linho , estopa e trapos, a que mais recentemente se juntou o algodão.

As peças mais emblemáticas, ricamente decoradas, apresentam-se geralmente em tons monocromáticos, embora os "tapetes de Almalaguês" tragam uma paleta mais diversificada, com cores como verde seco, castanho, bordeaux, amarelo-torrado e azul.

As colchas de Almalaguês, de maior prestígio e tradição, podem ser tecidas inteiramente em algodão ou combinadas com lã, fibras têxteis artificiais ou trapos. 

Além das colchas e tapetes, a produção inclui naperons, toalhas, toalhetes e, mais recentemente, vestuário, bolsas e calçado, evidenciando uma adaptação subtil às novas tendências.

   

Os desenhos tradicionais dos tapetes mantiveram-se praticamente inalterados nos últimos cem anos, respeitando padrões antigos e adaptações que garantem a continuidade da estética original.

A estrutura decorativa é bem definida: um motivo central (exceto nos tapetes de padrão repetitivo), um campo simétrico nos quatro quadrantes e barras principais, por vezes complementadas por barras secundárias mais estreitas, conhecidas como "gregas" — uma alusão aos antigos tapetes gregos.

Os elementos decorativos são variados e classificados em quatro grandes tipologias: antropomórficos, zoomórficos, vegetais e geométricos. Destacam-se motivos como a "coroa do rei" e as grinaldas, mas o mais icónico é a "armação de igreja", datada da década de 1920.

  

A técnica de tecelagem de Almalaguês distingue-se pelos seus "puxados", que resultam de um meticuloso entrelaçamento dos fios da trama e da teia, criando padrões elaborados com base numa quadrícula implícita ao tecido. Os bordados podem apresentar diferentes texturas: em relevo, com pequenos tufos aveludados; graúdo, com espaços ligeiros entre os puxados; ou miúdo, onde os fios se intercalam de forma mais próxima, proporcionando um efeito denso e uniforme.

A complexidade da tecelagem de Almalaguês exige um conjunto de saberes apurados e tarefas preliminares meticulosas, como a preparação e montagem da teia no tear.

Os utensílios tradicionais utilizados incluem dobadoira, caneleiro, canelões, espadilha, restelo, urdideira, ferro e, claro, o tear, coração deste ofício.

  

A prática da tecelagem permanece enraizada entre as mulheres de Almalaguês, especialmente entre as que têm entre quarenta e oitenta anos. A transmissão deste saber tem ocorrido sobretudo de forma intergeracional, dentro da comunidade.

Apesar dos desafios enfrentados pelas artes tradicionais, a tecelagem de Almalaguês mantém-se viva, sustentada pelo empenho das suas artesãs e pelo reconhecimento institucional e académico, continuando a representar uma componente relevante do património têxtil e cultural da região de Coimbra.

  

Texto adaptado a partir de conteúdo cedido pela Câmara Municipal de Coimbra.

  

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