A identidade da região mafrense não pode ser dissociada da
indústria oleira, que, pela sua implantação e proeminência, impõe, ainda hoje,
a sua presença como uma das marcas que maior distinção confere ao concelho e se
afirma como um dos centros oleiros de remonta no panorama nacional.
Nos últimos dois séculos a olaria mafrense assumiu enorme
relevância, fazendo sentir a presença das suas loiças para além das
fronteiras concelhias, estabelecendo importantes ligações comerciais com outras
regiões. Na última centúria, estas suas loiças já tinham vasta distribuição
geográfica, sendo levadas de porta em porta ou vendidas nos mercados e feiras
do centro do país, designadamente, por toda a região estremenha e ribatejana.
A existência da indústria oleira no território que
constitui o Município de Mafra remonta a tempos imemoriais, o que é evidente em
achados arqueológicos que datam do Neolítico, bem como em documentos
históricos, os quais demonstram que o ofício do oleiro já era reconhecido nas
suas Carta de Foro (1189) e no Foral Novo (1513).
A construção do Real Edifício de Mafra, inscrito, em 2019,
na Lista do Património Mundial, uma das obras mais exuberantes de todo o
Barroco, terá trazido até à vila milhares de trabalhadores e artesãos, vindos
de outras partes do país e do estrangeiro, entre os quais se encontravam
oleiros. No seguimento desta edificação, é de referir a implantação da Escola
de Escultura de Mafra e a eminente obra de Machado de Castro, que
hipoteticamente poderá ter influenciado as representações dos barristas
populares.
Perante o advento da modernidade, que se começou a fazer
sentir no segundo quartel do séc. XX, foi possível a esta indústria assegurar a
sua sobrevivência até aos nossos dias, ajustando-se aos tempos e às tendências
de mercado, embora mantendo a sua essência de uma indústria tradicional, em
muitos casos de natureza familiar.
Atualmente, a indústria cerâmica concelhia é caracterizada
por duas vertentes distintas e que se complementam, designadamente a olaria
tradicional, ainda com caraterísticas artesanais e a produção de figurado de
barro, cujo percursor foi o Mestre José Franco, aclamado um dos maiores
barristas populares do séc. XX.
Grande parte da presente produção oleira é decorativa, tem
vindo a alcançar mercados cada vez mais distantes, nomeadamente internacionais,
ainda que a loiça utilitária em barro continue a ser produzida adaptada às
novas tendências do mercado.
A cerâmica mafrense, apesar das novas conjunturas geradas
pelos processos da globalização, tem conseguido afirmar a sua identidade e, hoje, desempenha ainda um papel de relevo no património cultural concelhio.
Porém, o seu maior desafio reside na continuidade desta indústria, nomeadamente
na formação das gerações vindouras.
Texto de Maria Manuel Bringel, cedido pela Câmara Municipal de Mafra.
Bibliografia
Feira Internacional de Artesanato de Lisboa (2003). As idades da terra : formas e memórias da olaria portuguesa. Lisboa: IEFP
BRINGEL, Maria Manuel. «Olaria Mafrense: a sua expressividade e sobrevivência na presente centúria». Olaria: estudos arqueológicos, históricos e etnológicos, N.º 4, 2009. Barcelos: Museu de Olaria / Câmara Municipal de Barcelos, p. 30-45