“Os barros existem em todo o mundo, constituindo a maior parte da superfície terrestre. São rochas sedimentares de grão fino que tiveram origem na decomposição, química ou por erosão, das rochas feldspáticas como o granito ou o pórfiro. Os seus principais elementos constitutivos são a sílica e o alumínio. A combinação do oxigénio com estes elementos produz o dióxido de sílica e o óxido de alumínio que se combinam quimicamente com a água, constituindo o barro.” (FRICKE, 1981).
Argila é uma formação constituída por minerais “ditos
das argilas”. Como rochas sedimentares que se formam em meio hídrico (rios,
lagos, lagunas, mares) e geram sequências estratigráficas típicas destas e de
outras rochas de origem sedimentar. Os vulgares calcários que todos conhecemos
na paisagem são um bom exemplo. Os minerais dessas rochas são resultado da
erosão de outras rochas, que por acumulação em estratos/camadas, formam
bancadas na paisagem.
“A argila, ou barro, origina-se a partir da
decomposição ou metamorfose de rochas-mãe, ocorridos durante milhões de anos
através de ataques químicos (por exemplo, pelo ácido carbónico) ou físicos
(erosão, vulcanismo, pressões, etc.) que produzem a sua fragmentação em
partículas muito, muito pequenas (com cerca de 2 micrómetros, ou seja, 0.002
milímetros de diâmetro). Essas partículas são extremamente leves, e acabam por
ser levadas pelas correntes de água e depositadas no lugar onde a força
hidrodinâmica (o movimento dos fluidos) já não é suficiente para as mover.
Desse modo, as partículas mais pesadas depositam-se primeiro, as outras depositam-se
de acordo com o seu peso pelo decorrer do caminho e as mais leves depositam-se
mais à superfície, nos locais chamados depósitos argilíticos ou jazidas.”
(ALMEIDA, 2018). Estas são identificadas como as argilas secundárias. As
argilas primárias, como no caso do caulino, encontram-se em jazidas nos locais
onde se formaram.
Encontra-se argila em várias cores, desde branca,
cinza, amarelada e avermelhada, até ao tom mais acastanhado, ao roxo ou até ao
esverdeado. As diferenças entre elas, para além da coloração, residem na sua
plasticidade, contração, porosidade, e no seu comportamento na secagem (ou
endurecimento) e na cozedura (sinterização).
A argila usada para cerâmica de barro vermelho é a
“argila comum”, que se caracteriza por ter um alto teor de ferro e alta
plasticidade. Este tipo de argila encontra-se em inúmeros depósitos no país.
Apesar da grande disponibilidade local da matéria-prima, nos últimos anos
generalizou-se para muitos oleiros e ceramistas a utilização de pastas industriais
produzidas noutros países, como Espanha.
Preparação
O barro tanto pode ser extraído de camadas
superficiais, como das mais profundas, no subsolo. Uma vez cavado no
“barreiro”, o barro contém geralmente pedras ou raízes e deve ser preparado
antes de ser usado. A forma de limpar as impurezas do barro e o modo como a
pasta é preparada varia de região para região, no entanto, todos os
procedimentos passam pela “limpeza” da argila, separando as impurezas,
geralmente por peneiração. De seguida, o material é passado para um recipiente,
cuja denominação tem também variações geográficas como tanque ou fieira, onde é
amassado. Ao dispersar em água, está-se a separar os agregados e a homogeneizar
a massa que se vai trabalhar. Para alterar a consistência das pastas são frequentemente
misturadas várias argilas e inertes, de modo a obter a melhor resposta do
material, em função do tipo de trabalho a realizar.
Os inertes são minerais sem propriedades plásticas
que reduzem a contração das pastas durante a secagem. Inertes típicos são:
sílica, chamote, areia, molochite, cinza, xisto e talco.
Podem ainda ser usados componentes fundentes como o
cálcio, sódio, feldspato e
boro, que resultam na vitrificação ou podem mudar o ponto de fusão da pasta.
As condições da cozedura têm influência sobre os
resultados finais. Depende do tipo de forno ou queimas usadas e da temperatura.
Para obter acabamentos diferentes aplicam-se técnicas diversas, com serradura
ou a queima com redução de oxigénio. Existem fornos a gás, fornos elétricos,
fornos a lenha com diferentes configurações e a soenga, que é a forma primitiva
de queima de barro. A cerâmica negra é um exemplo do resultado da técnica de
queima numa atmosfera redutora, que se deve a uma combustão com défice de
oxigénio que deixa as peças com tons entre o preto e o cinza.
Bibliografia
- ALMEIDA, Ana João. (2018). Manual de Iniciação à Cerâmica. Edição de autor.
- FRICKE, Johann. (1981). A Cerâmica. 2ª edição. Editorial Presença: Lisboa.
- MOREIRA, José Carlos Balacó. (1990). “Matérias primas não-metálicas para o abastecimento da indústria cerâmica” in Cerâmicas nº5, P. I-XII. Caldas da Rainha.