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Bordado de Tibaldinho

Práticas
©DGARTES/Lino Silva/2023

O Bordado de Tibaldinho é uma manifestação artesanal com origem na aldeia de Tibaldinho, pertencente à freguesia de Alcafache, e que ter-se-á disseminado nas últimas décadas um pouco por todo o concelho de Mangualde e áreas limítrofes do concelho de Viseu e concelho de Nelas. Carateriza-se por ser um bordado elaborado com linha da paleta do branco ao cru, sobre pano 100% algodão, 100% linho ou meio linho igualmente na mesma paleta de cor.

É incerta a datação da sua origem. Ana Pires aponta a data de 1929 como a primeira referência escrita, num texto da autoria de Maria Júlia Antunes, por ocasião do IV Congresso Beirão realizado em Junho de 1929, em Castelo Branco (Pires, 1998). Em 1922, este bordado já representava Portugal na exposição comemorativa do I Centenário da Independência do Brasil, realizada no Rio de Janeiro (Osório, 1997).  

Uma produção de Bordado de Tibaldinho mais sistemática e de mercado terá iniciado não antes de meados dos anos 70 do século XIX. Terá sido por volta de 1875 a época em que as bordadeiras na zona de Tibaldinho terão deixado de bordar para uso próprio ou dos seus familiares e passaram progressivamente a bordar como forma de obtenção de recursos económicos (Pires, 2009). 

Nesta produção, sempre se destacou a confeção de diversos atoalhados de uso doméstico, entre eles, toalhas de mesa e respetivos guardanapos, toalhas de chá, toalhas de mãos, lençóis, panos de tabuleiro, panos para cestos de pão e panos decorativos para mobiliário. Só mais tarde, peças de outro tipo começaram a ser bordadas, mais ligadas ao vestuário, como roupa interior, aventais, golas e punhos de uniformes de serviço doméstico e roupa de criança. O Bordado de Tibaldinho também é aplicado em paramentos litúrgicos e alfaias litúrgicas.

Apesar de haver uma combinação de pontos que podem ser encontrados noutros bordados, o que mais diferencia o Bordado de Tibaldinho é o uso do Ilhós. Este consiste num orifício aberto com tesoura e posteriormente rematado a ponto de cordoné (ou cordão), variando de tamanho, conforme o motivo onde é usado e o efeito que a bordadeira lhe quer dar. Por vezes o Ilhós é ainda contornado com o ponto de sombra ou nozinhos. O Enleio é outro dos motivos mais identificadores do Bordado de Tibaldinho. Este é constituído por uma espiral de ilhós, que pode ser mais ou menos elaborada e com vários tamanhos. 

À semelhança de outras tipologias de bordado, o Bordado de Tibaldinho começa pela aplicação do desenho no tecido (o riscar) através do decalque de papel vegetal. Depois da peça bordada esta é “tosquiada”, aparando o que ficou desfiado depois de feitos os crivos, ilhós e folhas abertas. Passa pela lavagem manual, com sabão natural, e o branquear ao sol, para assim eliminar os riscos que tenham ficado visíveis. É engomado ainda húmido depois de impregnado em goma diluída em água. Termina cortando o excesso de tecido além do recorte que determina o acabamento da peça.

A transmissão deste saber tem sido pela via feminina, de geração em geração, oralmente e mediante a prática. Nas últimas décadas a transmissão também é feita através de cursos de formação realizados todos os anos em Tibaldinho, onde participam mulheres de várias classes etárias e sociais, vindo também de outras localidades do concelho de Mangualde e áreas limítrofes dos concelhos de Viseu e Nelas.

Atualmente, existem cerca de meia centena de bordadeiras que mantêm viva a produção, constatando-se que, para as mais novas o bordar é uma atividade complementar e irregular. A maior parte dos clientes dirige-se ao atelier e salão de exposição de Cidália Rodrigues, bordadeira e formadora na arte, localizado na rua principal de Tibaldinho, que é de extrema relevância para a divulgação, preservação e comercialização do Bordado de Tibaldinho.

O Bordado de Tibaldinho é desde 2017 uma produção artesanal tradicional certificada e foi submetido pedido de registo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial pela Câmara Municipal de Mangualde.

  

Texto adaptado de «Pedido de Inventariação do Processo de Confeção do Bordado de Tibaldinho no PCI - Anexo I. Câmara Municipal de Mangualde».

  

Bibliografia

  • ALMEIDA, Fernando Louro de. «Bordados de Tibaldinho ou Bordados de Alcafache». Separata do Boletim Escolas Técnicas, n. º 35. Porto: Of. Gráf. Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis  
  • Câmara Municipal de Mangualde; PEREIRA, Fernanda Mendes. Bordado de Tibaldinho - Caderno de Especificações. Mangualde: Câmara Municipal de Mangualde, 2017
  • OSÓRIO, Ana de Castro. A grande aliança. Lisboa: Instituto Piaget, D. L. 1997
  • PIRES, Ana. «O Bordado de Tibaldinho (um segredo bem guardado)». In Bordado de Tibaldinho. Lisboa: Câmara Municipal de Mangualde/ Instituto Português de Museus/ Museu Nacional do Traje, 1998, p. 15-28
  • PIRES, Ana. “Tibaldinho Revisitado”. In Fios. Formas e memórias dos tecidos, rendas e bordados. Lisboa: IEFP, 2009, p. 183-193
  • SILVA, José Manuel Azevedo. «Bordados de Tibaldinho». Separata da Revista Mundo da Arte, nº16, Coimbra: Instituto de História de Arte/ Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1983 
  • SILVA, José Manuel Azevedo. Bordado de Tibaldinho. Artesanato regional beiraltino. Mangualde: Câmara Municipal, 2003
  • TEIXEIRA, Madalena Braz. «As Origens do Bordado de Tibaldinho». In Bordado de Tibaldinho. Lisboa: Câmara Municipal de Mangualde/ Instituto Português de Museus/ Museu Nacional do Traje, 1998, p. 7-14

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