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Soenga

Técnica
Soenga em Bisalhães. ©DGARTES/Lino Silva/2022

A soenga é uma cova aberta numa clareira, de tamanho variável em função da quantidade de loiça. Chega a ter vários metros de diâmetro, podendo cozer mais de uma centena de peças. «Com duração de cerca de duas horas, a atividade compreende três momentos distintos, denominados de aquecimento (destinado a evitar que a loiça se parta por efeito de uma brusca elevação da temperatura), cozedura e abafamento.» (IEFP, 2003).

O processo de aquecimento dura cerca de 20 a 30 minutos. A temperatura estimada é de 450º neste ponto, no entanto, todo o processo é baseado num conhecimento empírico, de leitura dos sinais, do som e da cor da loiça e do tempo, que a repetição da tarefa ensina a calcular. As peças são colocadas em círculo, com as aberturas viradas para o centro, onde se acende a “moínha” ou “argaço” (IEFP, 2003). 

Uma vez extinto o primeiro fogo, é o momento da montagem ou arrumação da soenga, que exige muito conhecimento do oleiro, de modo a conseguir uma cozedura o mais uniforme possível e evitar a perda de peças. Em alguns locais prepara-se o fundo da soenga com uma cama de cacos para criar uma câmara de ar. A loiça é empilhada, começando pelas peças maiores ao centro. Depois, são colocadas as peças médias e as pequenas são arrumadas nos intervalos. A pilha é coberta com lenha de pinheiro e caruma ou palha, de modo a garantir uma boa combustão, que dura cerca de 45 minutos. Quando as peças adquirem uma coloração laranja é o momento em que a soenga atinge a temperatura máxima, a cerca de 900º. É o sinal para dar início à terceira fase, o “abafamento”, em que a soenga é coberta com grandes quantidades de caruma e depois com carvão “enxuto” (carvão guardado da soenga anterior), compactando muito bem, de modo a evitar qualquer entrada de ar e garantir o isolamento total da soenga. Durante cerca de 45 minutos, a decomposição dos vapores orgânicos da combustão dos materiais combustíveis resinosos provoca a defumação, que confere a coloração negra à loiça. A desmontagem da soenga ocorre cerca de 24 horas depois, tempo que permite o arrefecimento das peças de forma gradual. Ainda assim, as peças são retiradas ainda quentes, com a ajuda de um pano ou “ranhão”. As peças estão prontas.

  

Bibliografia

  • ALMEIDA, Ana João. (2017). Manual de Iniciação à Cerâmica. Edição de autor.
  • FERNANDES, Isabel Maria; MOSCOSO, Patrícia; CASTRO, Fernando. (2009). A louça preta de Bisalhães (Mondrões, Vila Real). Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real | Município de Vila Real; Museu de Olaria | Município de Barcelos.
  • IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional. (2003). As Idades da Terra – formas e memórias da olaria portuguesa.
  • IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional. (2019). Rotas da Cerâmica nas Beiras.
  • Museu do Douro. (2021). Mãos que fazem Bisalhães.
  • PERDIGÃO, Teresa; CALVET, Nuno. (2003). Tesouros do Artesanato Português. Volume III – Olaria e Modelação. Lisboa | São Paulo: Editorial Verbo.
  • Processo de confeção da Louça Preta de Bisalhães. In Matriz PCI. http://www.matrizpci.dgpc.pt/MatrizPCI.Web/InventarioNacional/DetalheFicha/410?dirPesq=3 [Consultado em 16-11-2022]

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