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Mobiliário de Bunho

artes
©DGARTES/Estúdio Peso/2022

A arte do mobiliário de bunho é a técnica habilidosa de construir assentos, bancos e cadeirões, com a suave palha do bunho. Uma atividade presente nas zonas de Santarém e Alcobaça e que teve o seu apogeu entre as décadas de 50 e 80 do século passado. Os assentos feitos inteiramente de bunho são leves, duradouros e muito confortáveis. Sabemos que a aprendizagem era feita em meio familiar, e que em Portugal são feitos os mesmos modelos, da mesma forma pelo menos há três gerações, nas famílias dos últimos artesãos. Mas a origem desses modelos perdeu-se no tempo na passagem de pais para filhos. 

A atividade desenvolveu-se no “bairro” ribatejano no início do século, onde os camponeses se dedicavam à produção de esteiras e bancos de bunho nas épocas de menos trabalho agrícola. Sendo uma região que, periodicamente, recebia trabalhadores de várias zonas do país nas épocas das colheitas — os “ratinhos” da Beira Baixa, os "praieiros" da Nazaré e Peniche, os “serranhos” da Serra de Aires e Candeeiros — é difícil rastrear uma origem ao mobiliário de bunho. O caso mais emblemático é a aldeia do Secorio, onde existiram, em meados do século passado, várias oficinas. Na oficina da família Domingos Cordeiro, por exemplo, trabalhavam quatro irmãos e alguns aprendizes. Cada tanheiro «produzia diariamente duas cadeiras, ou um sofá de três lugares, ou cinco a seis tanhos.» (SANTOS, 2015).

©DGARTES/Estúdio Peso/2022

A planta do bunho existe em abundância e é de fácil acesso nas zonas onde é espontânea. É também mais macia e maleável do que outras fibras vegetais, ao mesmo tempo que apresenta resistência ao desgaste, o que atribui durabilidade aos produtos com que é feita. Estas características fazem do bunho um material perfeito para criar bancos e cadeiras confortáveis. O trabalho com o bunho é exigente, começando pelo processo de preparação, desde a apanha e secagem, até ao entrelaçar das fibras. Para poder ser trabalhada, a fibra é regada de véspera, ficando bem encharcada para não quebrar ou lascar. A parte de cima da planta, usada para o enchimento, é apenas borrifada com alguns salpicos de água, para ficar mais macia. Os caules do bunho, depois de secos e prontos a trabalhar, são cortados ao meio. A parte inferior, mais larga e forte, é usada para tecer e a parte superior, mais fina (o “enchume”), é usada para encher a peça  (PERDIGÃO, 2013: 65-75). 

O “bunheiro” ou “tanheiro” encontra-se quase sempre sentado num banco baixo, segurando o objeto em que trabalha entre as pernas. Geralmente, de um lado coloca as pontas de bunho que vai entrelaçando, e do outro o “enchume”, com que vai formando uma espiral à qual se chama “caracol” ou “chouriço”. A “mancheia” perfaz a quantidade certa de bunho para formar o recheio das rodelas, que vão sendo tecidas e sobrepostas para produzir um “tanho” (nome pelo qual eram conhecidos os bancos feitos em bunho). O artesão tem ao seu lado um recipiente com água que serve para manter as pontas e o “enchume” borrifados. A água serve também para manter as mãos molhadas, de modo a facilitar o trabalho de alisar o bunho. 

Os instrumentos e ferramentas utilizados são, geralmente, a navalha (para desbastar o bunho em excesso e para cortar o bunho imperfeito no final de cada trabalho), a “pazelha” (cunha em madeira que serve para empurrar as palhas em excesso para o interior do trabalho), a agulha (feita em aço, com o cabo em madeira, tendo na sua extremidade um buraco para passar o bunho), o regador (para regar o bunho)  (O BUNHO, CMS).

No mobiliário, em particular, a técnica utilizada para a produção, com os seus cruzamentos e nós, resulta numa trama muito característica, mantendo a coloração natural do material. Os artefactos tradicionalmente produzidos são de caráter utilitário e prático, como bancos, “maples”, mesas e cadeiras.

No sentido de preservar e dinamizar esta prática, nos anos oitenta do século passado realizaram-se cursos nos Centros de Formação Profissional mas poucos destes formandos prosseguiram na atividade. Atualmente, existem apenas dois artesãos no país a produzir mobiliário com bunho, ambos da zona de Santarém e com mais de 60 anos de idade; ao mesmo tempo, que é cada vez maior a procura dos modelos tradicionais do tanho e do cadeirão.Curiosamente, na América Central, nomeadamente no México (município de Lerma, no Estado do México), existe um modelo de banco tradicional idêntico ao tanho ribatejano, executado da mesma forma, o “taburete de tule”. 

Bibliografia

  • Águila Alonso, M. G. (2021). “Para una colaboración horizontal entre diseñadores y artesanos mexicanos” in Economía Creativa (14), 222-255. 
  • Esteiras de Bunho. In Câmara Municipal de Coimbra. https://www.cm-coimbra.pt/areas/visitar/ver-e-fazer/artesanato/esteiras-de-bunho [Consultado em 14 de Novembro de 2022]
  • IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional. Idades Entrelaçadas. Formas e memórias das artes de trabalhar fibras vegetais. Lisboa: IEFP.
  • MURTEIRA, Jorge (2022). Artisans' Voices #1 – Arménio Varela e a origem do mobiliário de Bunho. Vídeo: https://vimeo.com/721995858.
  • SANTOS, Estrela de Assunção Branco dos (2015). Os Artefactos em Bunho. Manufaturas Populares na Zona do Bairro Ribatejano. Santarém: Câmara Municipal de Santarém.
  • O Bunho – Uma Homenagem ao Mestre. http://obunho.blogspot.com/ [Consultado em 14 de Novembro de 2022]
  • O BUNHO - Câmara Municipal de Santarém (sem data)
©DGARTES/Estúdio Peso/2022
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