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mapa de Construção de Violas de Arame
As violas de arame – Amarantina, Campaniça, Beiroa, Braguesa, Toeira, Açores e Madeira – expressam a riqueza cultural, material e imaterial, dos diferentes lugares.
A escolha cuidada das madeiras para os diferentes componentes da viola de arame determina a qualidade e a sonoridade que acompanha as manifestações populares de cada região.
A primeira referência à “viola portuguesa” surgiu no séc. XVI, no Regimento dos Violeiros de Lisboa (1572), que estabelece o fabrico da viola. Dois séculos mais tarde (1719) foi publicado o regimento para a indústria violeira localizada em Guimarães, local onde os violeiros eram «obrigados a acompanhar as procissões (…) sob pena de multa». O Porto, nessa altura, também tinha registos de violeiros. Um século depois, Barcelos e Viana do Castelo continuavam a ser conhecidos pelos seus violeiros. Veiga de Oliveira, no livro Instrumentos Musicais Populares Portugueses (1964), refere que a «indústria desaparece completamente de todas essas localidades, subsistindo apenas, com fortes características de um velho artesanato, nos arredores de Braga e também no Porto», sendo a partir daqui que todo o país é abastecido.
A viola de arame começou a ser referida no último quartel do século XIX, associada ao uso popular. No Nordeste surgiu como um «instrumento básico de acompanhamento, nas "rusgas" e "chuladas" festivas da região»; na Beira Litoral, na região rural de Coimbra, era o «instrumento com que o povo acompanhava os seus descantes festivos e danças», em «Coimbra nas festas de São João», e no final do século XIX, «a viola era mesmo um dos instrumentos favoritos da própria cidade e da Academia, e usava-se em serenatas e cantares», até ser substituída pela guitarra; no Baixo Alentejo, na região campaniça, a sul de Beja, a viola estava associada «a um tipo especial de "modas" e "despiques"». Nas Beiras interiores, no distrito de Castelo Branco, a viola estava «ligada a um género lúdico e festivo, cantares ao domingo, "parabéns" e serenatas aos noivos»; na Beira Baixa, Alentejo e na ilha de São Miguel, tinha por vezes «funções cerimoniais e folias do Espírito Santo»; nos arquipélagos da Madeira e dos Açores servia «a música de carácter lúdico e lírico, cantares e danças festivos tradicionais» (Veiga de Oliveira, 1964).
As violas portuguesas são todas do mesmo género, «com a caixa de ressonância composta de dois tampos chatos e quase paralelos, enfranque ou cinta formando dois bojos, o de cima menor e o de baixo maior» (Veiga de Oliveira, 1964). A Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX refere igualmente que existem algumas semelhanças entre os vários modelos regionais, como características morfológicas que os identificam: enfranque, boca, braço, escala, cabeça, cravelhame, encordoamento e dimensões.
No território nacional encontramos os seguintes modelos de violas regionais:
Um dos elementos que distingue as violas de arame é, por exemplo, a “boca”, a abertura no tampo harmónico situado no bojo mais estreito da caixa de ressonância sobre ou próximo da linha de enfranque, pode ser circular (Braguesa, Beiroa, Campaniça, Terceirense e Madeirense), oval (Toeira e modelo antigo Braguesa), "boca de raia" (Braguesa), coração com as pontas para fora (Amarantina e Micaelense) (Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX).
Na construção das violas as madeiras são selecionadas criteriosamente, de acordo com a forma como as peças foram cortadas, o nível de secagem, a disposição dos veios, a textura e a qualidade das diversas partes do instrumento. Os tipos de madeira usados são escolhidos em função das suas propriedades acústicas, estéticas e valor económico. São preferidas pelos violeiros «as madeiras sem nós, com veios finos e regulares: tampo harmónico superior da caixa de ressonância: pinho-branco, espruce e tília; ilhargas e tampo harmónico inferior: plátano, pau-santo, mogno, nogueira e cerejeira; braço: plátano, amieiro, tília, castanho, pinheiro-silvestre, mogno (Madeira) e cedro (Açores); escala: ébano, pau-preto, pau-santo, ou qualquer outra madeira com uma infusão escura; cavalete: nogueira, pau-santo, ébano ou pereira; orlas da boca e do tampo superior harmónico: habitualmente decoradas com embutidos de madeira escura ou com pinturas manuais» (Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX).
Os construtores têm sido responsáveis pela evolução dos instrumentos musicais populares, considerando que alguns, também tocadores, conheciam as características, potencialidades e fragilidades dos instrumentos. Por vezes, eram os músicos que «perante as limitações sonoras e/ou técnicas que encontravam no instrumento, aconselhavam o construtor a experimentar soluções novas e madeiras diferentes, corrigir deficiências e melhorar a qualidade do instrumento» (Caderno de Especificações para a Certificação, Viola Braguesa).
O processo de construção das violas portuguesas foi sendo reajustado de acordo com as necessidades culturais e musicais regionais, assim como às exigências dos seus tocadores «factos que implicaram transformações ao nível das técnicas de construção, nomeadamente, no volume da caixa de ressonância, no melhoramento do braço com o ajuste das suas medidas» (Violas da Terra – Açores, Caderno de Especificações Técnicas).
As ferramentas utilizadas são variadas: serrotes e serras de recorte, plainas, formões, lixas, grampos, compassos de corte, boneca de pano para envernizamento e três máquinas – berbequim, ferro de dobrar, ilhargas e lixadora elétrica (Caderno de Especificações para a Certificação, Viola Beiroa).
As fases da construção das violas de arame são semelhantes nos diferentes modelos e regiões. Apresentamos o exemplo da viola, segundo o caderno de Especificações para a Certificação, Viola Braguesa Portugal (2017):
No estudo sobre os Instrumentos Musicais Populares Portugueses, Veiga de Oliveira, em 1962, afirma que as violas campaniça e beiroa eram «muito raras e em vias de total extinção», e no livro “Tesouros do Artesanato Português”, Teresa Perdigão, em 2001, refere que «das violas continentais, apenas a braguesa e a amarantina conhecem no presente grande vitalidade (…) a beiroa está quase extinta e a toeira sofreu total extinção».
Nos últimos anos as violas de arame, consideradas extintas pelos autores acima mencionados, estão a ser objeto de revitalização. A viola Beiroa, por exemplo, foi certificada em 2017, tendo este processo de revitalização estado a cargo da Associação Cultural Viola Beiroa (formação de violeiros/construtores e recolha e composição de repertórios). À Viola Toeira foi reconhecido o potencial de um instrumento com possibilidades expressivas pelas comunidades académicas e musicais (Núcleo de Estudos da Viola Toeira). Para além da Viola Beiroa, nos últimos anos, foram também certificadas: a Viola Amarantina (2023), a Viola Braguesa (2017) e a Viola da Terra Açores (2024).
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