A produção de uma faca é feita de etapas que se iniciam numa chapa metálica que sujeita a processos agressivos se consubstancia numa faca única, de autor, em que o fio de corte se quer rigorosamente acutilante. Trata-se de um processo duro, não só para a matéria-prima, mas também para o artífice, que lida com as altas temperaturas da forja e com a força necessária para agredir o metal na bigorna. Citando Carlos Norte, o Cuteleiro do Lombo do Ferreiro “Minerar e forjar o ferro sempre foi um trabalho duro, envolvendo fogo e altas temperaturas e com muitos segredos para obter qualidade. Muitas vezes os ferreiros eram considerados alquimistas envolvidos em mistérios e segredos.” (NORTE, 2024)
O fabrico inicia-se com a introdução da peça de aço carbono na forja a uma temperatura de cerca de 1000ºc; de seguida, esta, aínda incandescente, é moldada com martelo na bigorna. Este processo repete-se sucessivamente até que o metal atinja a forma desejada. De seguida, a faca retorna à forja para ser endurecida e refinado o grão de aço, passando, para a têmpera, que consiste no arrefecimento da faca por imersão numa mistura de óleos, com o propósito de prevenir fissuras. Esta é ainda sujeita ao processo de revenimento - aquecimento em forno a cerca de 200ºc durante pelo menos uma hora, dotando-a de elasticidade e durabilidade no uso quotidiano. Por fim, a faca encontra-se preparada para ser polida e afiada na esmeriladora ou lixadeira.
O processo finaliza-se com a colocação do cabo, que poderá ser em madeira, osso ou chifre. As características únicas de textura e tonalidades das matérias-primas acrescentam a beleza, elegância e originalidade às facas e navalhas.
Existe ainda um outro processo de produção artesanal de facas que atrai os cuteleiros de autor: a técnica de Aço Damasco. Trata-se de um método de produção que teve origem há mais de 1500 anos, em Damasco, Síria, mas que se perdeu no tempo. Nos anos 70 do século passado, foi reanimado num ímpeto de revivalismo, por primar pela peculiaridade e beleza do trabalho final. Consiste na criação de uma faca a partir de um bloco de diversas peças de aço carbono. Num processo repetido de torção e dobra no martelo e bigorna, o produto final é uma faca com um acabamento singular, que remete para o efeito visual de uma impressão digital. Consubstanciando-se numa arte operada pela natureza com a intervenção humana, esta é dotada de toda uma imprevisibilidade que resulta numa peça única, de inestimável valor.